Um dia, minha ex-mulher, que prefiro chamar de mãe dos meus lindos filhos, me disse que eu era “uma criança bem sucedida”. Na hora fiquei muito feliz e emocionado pois ela conseguiu definir com 4 palavras quem eu era. Nem mesmo eu cheguei nesse pensamento.
O máximo que fiz foi me batizar de “O menino que só tinha uma chance”. Uma palestra que fiz para a Endeavor em 2009 e que até hoje as pessoas me procuram não só pela técnica que transmite na apresentação mas principalmente pela identificação com os valores daquele menino, que são universais.
Hoje, no dia das crianças, com 3 presentes que recebi de Deus, morando sozinho, mas muito amigo da mãe de meus filhos, eu reflito sobre o que ela me disse. Eu sempre defendi que nós, adultos, deveríamos sempre manter a criança viva. Agir como tal. Vibrar, comemorar, bagunçar, chorar, enfim, manter toda a magia que uma criança carrega. Muitas vezes eu exagerava na dose e ouvia “Joni, menos”!
E aí olho no espelho e vejo o quanto estou distante de ser uma criança bem sucedida. Sou reconhecido como um dos principais nomes do storytelling no Brasil. Paguei um preço pra chegar onde cheguei. Por várias vezes a vida me colocou de joelhos (lembra? Rocky Balboa). E não vou ser mentiroso dizendo que superei tudo e hoje “sou bem sucedido”. Ainda tenho muito o que fazer e vou dar muito trabalho para minha psicanalista. E é ai que mora o adulto que muitas vezes briga com a criança. A vida traz uma responsabilidade que muitas vezes é maior do que a “criança” aqui dentro consegue encarar. Nessas horas “grandes poderes trazem grandes responsabilidades” (Uncle Ben em Homem-Aranha, mas acho que a frase é de Nietzsche).
Mas Joni, isso é “down”? Não, estou fazendo o que aprendi com o mestre Robert McKee, escrevendo de dentro pra fora e revelando com emoção e autenticidade o que sinto nesse momento.
Hoje é dia das crianças e eu me dou conta cada vez mais quanta alegria elas carregam.
Minha filha, Carol, quando soube que sua boneca tinha chegado não parou de pular e gritar.
Meu filho, Felipe, quando ganhou uma luva de boxe saiu batendo na parede e em tudo que via na frente se sentindo mesmo o Rocky Balboa.
Meu filho, Bruno, que na teoria não é mais criança (15 anos), agindo como adulto, me dando bronca por não fazer exercício. E ele, sem camisa, parecia o Cristiano Ronaldo. Que orgulho. Esportista e saudável. E que “soco no estômago” saber que meu filho, consciente, sabe que eu estou me prejudicando em não fazer exercício. Dá aquela vergonha que nunca senti.
Você quer ser elogiado, quer ser um exemplo em tudo. Tenta, como todos, ser um pai perfeito. E nessas horas descobrimos que estamos longe disso. E tudo bem, vida que segue.
Ainda no dia das crianças, eu chego em casa, sozinho, e me pergunto, afinal, onde está aquela “criança bem sucedida”?
Confesso que foi difícil. Minha psicanalista disse outro dia que estamos vivendo um momento de “trevas”. Claro que é um jeito de falar. Mas não é que estamos mesmo! Apesar de um joelho ralado doer menos que um coração partido (Kelly Smith em Era uma vez), eu tenho saudades do “joelho ralado”. Mas jamais voltaria no tempo. Olho pra frente pois a vida começa aos 50 (desculpe, tive que usar esse clichezão!).
Chegou a hora de meus filhos viverem esse “joelho ralado”. Grandes preocupações? Deixa com a gente. E aí entra o adulto. Sempre briguei com o fato da galera ser “adulta demais”. Mas hoje eu descobri que na verdade eu estava sendo “adulto de menos”.
Acreditando na definição que a Dani me deu, foi difícil conviver com problemas do mundo real. O Joni que enxerga a vida com as lentes de uma criança, aos 51 anos, também aprende como uma criança! Por isso que sempre falo com meus clientes e escrevo nos meus textos sobre a importância de entendermos que o mundo cor de rosa existe só na “mesa de margarina”. A importância de reconhecermos o lado difícil da vida pois é ele que nos faz sermos grandes protagonistas.
Minhas melhores obras no trabalho vieram um pouco do adulto e muito da criança que vive dentro de mim. E sim, me inspiro muitas vezes na dor para escrever. E sem querer me comparar com o Beethoven (bem longe disso!), apenas como analogia, sua obra mais famosa e imortal foi escrita no momento de maior sofrimento, enquanto ficava totalmente surdo.
Esse texto não é para crianças. É para adultos que, como eu, sabem que é difícil crescer, que todos nós “choramos no banheiro” e, apesar das aparências do Instagram, lá no fundo, tem uma criança tentando se adaptar ao mundo adulto, vestindo muitas máscaras para tentar mostrar pra sociedade que é “bem sucedida”. Mas sabe de uma coisa, não existe tal condição como “bem sucedida”. Nós estamos em constante busca por sentido. Busca por respostas sobre “como devemos viver nossas vidas”. Não existe “cheguei lá”! Onde é “lá”. E depois de “lá”, o que vem?
E de tudo isso, o que mais me inspira a enfrentar a vida quando ela não é boazinha, são essas três criaturinhas que eu e a Dani trouxemos para esse mundo. E que um dia serão “adultos”.
O que eu desejo? Que eles realmente sejam “crianças bem sucedidas”.
Vocês devem estar confusos com toda essa reflexão, mas afinal, qual é a moral dessa história? Isso eu deixo pra vocês pois quando a história é boa, ela nos prende e faz refletirmos sobre nossas vidas, sem precisar declarar a “moral da história”. Sobre a “criança bem sucedida”? Vocês não ficarão livres dela nunca e aguardem que ela ainda vai aprontar muito!
Feliz dia das crianças!
Joni Galvão
CEO e “uma criança bem sucedida”