Dialogar é uma arte que pode ser melhorada com o treino e o entendimento dos seus princípios…
E como parte do meu trabalho é estabelecer um paralelo entre os melhores filmes com o mundo corporativo, esse texto, baseado no pensamento de Robert McKee (meu mentor) explora um pouco sobre esse tema.
Ao nos comunicarmos com a gente mesmo e com os outros, o diálogo é o que faz a ponte entre uma parte e outra.
As conversas na vida como ela é são muitas vezes chatas, com palavras desnecessárias, repetições sem sentido (o tal prolixo) e sem o tão poderoso subtexto, ou seja, tudo é literal demais. Isso sem falar nas agendas ocultas, que nunca serão reveladas, e estragam qualquer chance de haver uma conversa honesta.
Alguns princípios para você seguir e melhorar sua comunicação, ser mais interessante:
1) O diálogo vai muito além da conversa
O diálogo não é somente uma conversa. Ela faz parte de uma cena que está acontecendo, seja na realidade ou no cinema, onde duas ou mais pessoas se revelam através de suas ações e decisões tomadas.
O diálogo revela. Revela o verdadeiro caráter das pessoas. “Character” não é “personagem” como muita gente acha. É “Caráter”. Um diálogo leva a conversa pra frente e necessariamente funciona dentro de uma relação de causa e efeito.
Ele é revelado através das decisões tomadas por cada parte e está em constante mudança nas emoções que estão em jogo.
2) O diálogo deve ter um propósito
McKee diz “dê a cada palavra a mesma consideração que um diretor daria para um ângulo de câmera”.
No cinema, o diálogo é preparado e pensado. O resultado, quando ele é bom, é uma obra de arte. Todos têm um só propósito e as palavras são relevantes, nem mais e nem menos.
Por que não fazer isso na vida? Claro, na maioria das vezes não temos tempo para preparar um roteiro, um diálogo e nossas ações. Temos que improvisar e tudo vai depender das reações do outro. Quanto mais você treina utilizando estes princípios, melhor será sua capacidade em dialogar e ser mais envolvente.
Ao definirmos o propósito, estamos direcionando o contexto das relações e dizendo para o outro “olha só, é por aqui que devemos ir”. Claro que isso não é declarado. A partir do momento que se sabe onde quer chegar, a relação fica muito mais harmônica
3) Utilize subtexto
Subtexto é tudo aquilo que não é dito. Está nas entrelinhas. Escondido. E na maioria das vezes é o que traz emoção e drama para a interação. Ser literal demais é chato.
Sem que você se dê conta, já utiliza subtextos diariamente. Mas quando você torna consciente pode treinar e aplicar não só em suas falas, mas nos gestos e expressões, que também carregam subtexto.
Ao invés de “pode confiar em mim pois sou especialista nesse assunto e tenho mais de 20 anos de experiência”.
Por que não “Quando comecei a atuar nesse assunto nos anos 90, o mundo tinha outra dinâmica.”
Ao invés de declarar você deixou para a audiência deduzir.
Quando eu falo “descubra a magia da vida novamente”, quero dizer que um dia você já teve, mas por algum motivo perdeu, e pode resgatar.
Se eu simplesmente afirmo para você “descubra a magia da vida”, não estou deixando nada implícito pois não estou querendo dizer que você um dia já teve.
Subtexto é o que as novelas brasileiras não têm e os filmes e séries de maior sucesso possuem em abundância.
Joni Galvão
Fundador & CEO da PLOT